Por Mário Maestri
Ao contrário de todo mundo, amo apaixonadamente Donald
Trump! Minhas razões são fundamentalmente três. Primeiro, era ele [que quer
fazer bons negócios com o Putin] ou Hillary Clinton [que esperava babando
sangue o resultado das eleições para liquidar a Síria, a Rússia, o Irã, a
Venezuela e assim vai]. E não me venham com a baboseira do “não quero nenhum
dos dois” ou “que se vayan todos.” Aqui, elas não servem, pois o Tigre de Papel
tem dentes mortais, como lembrava o velho gordinho chinês.
A segunda razão de meu amor é que Trump é protecionista – ou seja, não quer
nada conosco! Jurou que vai fazer estradas, portos, pontes, canais e o diabo a
quatro nos Estados Unidos, para devolver a estima e o trabalho aos operários
estadunidentes. E, é claro, encher o bolso do respectivo segmento do capital
USA marginal, do qual participa com destaque. E, se não o fizer, logo, nem que
seja um pouco, vai ser um desencanto geral dos seus eleitores. O que, para mim,
é, também, muito bom.
E, mais ainda.
Para fazer as obras prometidas, mesmo algumas, vai ter que tirar
dinheiro de algum lugar. Ainda mais que prometeu baixar os impostos da classe
média e, é claro, das grandes empresas. E onde tem dinheiro para ser tirado é
na rede monumental de bases militares aéreas, terrestres, navais dos USA,
através de mundo. Ele já disse que a função USA não é proteger as fronteiras
dos outros. E disse que a OTAN é um anacronismo! Será que vai fazer isso,
amplamente? Não sei. Vamos ver. Em todo caso, na última segunda-feira, dia
23, a Hillary estaria radicalizando o confronto militar com a Síria, com a
Rússia, com a China. E o mundo estaria mais próximo de uma “guerra quente”,
muito quente.
A melhor parte do protecionismo de Donald Trump é que prometeu desandar, até
onde puder, a tal de globalização, a menina dos olhos de Obama e Hillary e do
capital internacional hegemônico, sobretudo financeiro. Ou seja, ele é contra
enviar as fábricas dos USA – e da França, Itália, Alemanha, Brasil, etc. – para
países onde subsista a escravidão assalariada, para explorá-la até o tutano. A
tal de deslocalização industrial selvagem. Será que vai aplicar essa política
totalmente contrária ao grande capital internacional?
Nesse ponto, o monstro já começou a mostrar as garras: assinou decreto
pondo fim ao Tratado de Associação Transpacífico [de livre comércio], criatura
do Obama, e declarou que vai abandonar o tratado de livre comércio com o México
e o Canadá, se não houver renegociação. O NAFTA, já é velho de 23 anos!
Portanto, já temos um super Donald Trump No Global! E aí está a principal razão
para que o homem esteja sendo execrado em forma direta pela Rede Globo! Uma
Globo que, tradicionalmente, afirmou e sugeriu que, “O bom para os USA é bom
para o Brasil!”
A última grande razão de meu amor é que Trump é a cara do grande capital
estadunidense.
Nesse já mais de meio século dominado pela televisão, o
establishement estadunidense esforçou-se para eleger como presidentes mocinhos
de cara bonita, fotogênicos, afáveis, facilmente 'televendíveis'. O primeiro foi
John Kennedy e sua extensão feminina, Jacqueline, a viuvinha da América, que,
logo, logo, se casou com o primeiro velho rico que encontrou – business is
business! Nessa corrida pela cara bonita, até artista canastrão do cinema
prestou-se como testa de ferro do imperialismo.
A consagração desse movimento foi Barak Obama – alto, magro, belo, com um
enorme sorriso, negro sem exageros, orador excepcional. Maravilhosamente
midiatizável em seu posicionamento politicamente correto, quanto aos direitos
civis internos – negros, hispanos, GLBT. Ele era contra as armas, contra o
cigarro, pelo meio ambiente e sua Michele, fanática dos legumes e inimiga à
morte dos meninos gordinhos. Um amor de casal, mesmo quando o chefe da família
espalhava a morte, a dor, a violência, em doses de elefante, retomando o ciclo
de intervenções indiretas e diretas, através do mundo.
Donald Trump não.
É feio, bruto, gordo, deselegante, misógino, racista,
machista, publicamente despreocupado com o meio ambiente. Sua mulher, é melhor
nem falar!
Trump é menos midiatizável que o nosso presidente mesóclise! Mesmo se entrar
na linha, vai ser difícil transformá-lo em mais um maravilhoso “líder do mundo
livre”. Esse, nem a Globo consegue vender!
Donald Trump constitui um hiato que desorganiza a política hegemônica do
imperialismo, ao representar segmentos marginais do capital nacional e uma
insatisfação profunda entre vastíssimos segmentos populares e trabalhadores
estadunidense. É indiscutivelmente uma inesperada pedra no sapato do imperialismo,
já que se esperava a Hillary, a “primeira mulher presidente” dos USA, para
substituir o primeiro negro na Casa Branca! Em um verdadeiro conto de fadas
[malvadas].
Trump é um problema para o capital hegemônico. Vai ter que ser
corrigido. É também possível que termine objeto de uma intervenção mais radical
e rápida, do tipo Richard Nixon ou, mesmo, John Kennedy.
O que para mim está também de boa medida!
Mário Maestri. Historiador.
Mário Maestri. Historiador.
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Via Rogério C Leite (Cultura e Sociedade)