terça-feira, 24 de janeiro de 2017

UM PAÍS QUE ACABOU

UM PAÍS QUE ACABOU
A queda do avião em que estava um ministro do STF despertou na nação a teoria conspiratória de que houve um atentado. 
A população está convencida da culpa dos políticos que tinham acertos de conta na Operação Lava Jato e tem até quem incrimine o Lula, que nada tem a ganhar na morte do ministro. Vox Populi, vox Dei. 
É que a nação vem se acabando na enxurrada de tantos desmandos, que alguém deve ser culpado do que vem acontecendo em todas as esferas de poder. Mesmo um sujeito oculto. Ou sem a digital de um dedo.
A mim não interessava o sujeito conspiratório. Desde o começo, eu queria saber o que diabos Teori fazia dentro daquele avião. E, só muito depois, as coisas começaram a clarear. 
O dono do avião, a princípio apresentado como um amigo dos tempos que o ministro cuidava de sua esposa enferma, é sócio do Banco Pactual, envolvido na Lava Jato. O sócio do amigo de Teori foi posto em prisão domiciliar pelo ministro e depois solto. O amigo morto o levava para um final de semana numa propriedade erguida numa área de proteção ambiental sem licença para o empreendimento e cujo recurso, após condenação em primeira instância, está no STF. Um amigo ministro tem uma grande serventia.
Uma coisa que sempre me chamou a atenção foi que nos treze anos de governo petista eles não souberam escolher juízes decentes para o Supremo. Lewandowski não tomou para si a lambança armada no parlamento para o impedimento de Dilma. Tóffoli se transformou em linha auxiliar de Gilmar. Rosa Weber, uma direitista exemplar.
Carmem Lúcia mais corporativa que ministra. Teori era o sisudo e aparente honesto. Ora, se o que parecia o mais sério juiz de nossa corte superior foi flagrado numa lambança por uma queda de avião, imaginem os outros... 
Com o Gilmar jogando para os criminosos (a mídia não acha estranho ele pegar carona com o presidente que é réu, nem uma reunião “entre amigos de mais de trinta anos” que ele frequentou ontem no Palácio presidencial), o decano sendo chamado de escroque por um ex-colega, o primo do Collor passa a ser o mais respeitado (meu Deus, onde chegamos!). Fachin e Barroso ainda tateiam o poder.
Cheguei a pensar que a esquerda não formasse quadros jurídicos importantes ou eles eram muito poucos. Erro meu que aprendi com a morte do Teori. Ontem, na madrugada, um magistrado da Paraíba conseguiu tempo para lavrar um habeas corpus que soltou um assassino bêbado, que acabara de atropelar um agente de trânsito. O bêbado era filho do rico empresário das afiliadas da rede Globo. O caso do mimado Thor que matou um ciclista com seu brinquedo a duzentos por hora já foi até esquecido.
Todos temos amigos e temos as nossas fraquezas humanas. Só que os nossos juízes não parecem ter amigos entre os pobres mortais, mas apenas entre os ricos que se acham imortais e acima da lei por um pertencimento de classe. O próprio salário absurdo a que fazem jus contribui para isso. A elite desse país sabe remunerar bem os seus capachos. 
Nunca devemos esquecer que Lewandowski fez mais pelo salário dos seus pares, que o seu dever como ministro a impor o poder da lei.
A morte de Teori parece gritar que o poder judiciário trata diferente os amigos de classe, a elite desse país. E isso parece significar que o país acabou. Temos um executivo criminoso, que mais parece uma quadrilha; um parlamento que se alimenta das migalhas da elite, é eleito com o dinheiro dela e por ela trabalha noite e dia; com um judiciário assim, estamos num país sem leis. Uma nação que não mais existe.
Se foi um atentado ou acidente não tem mais a mínima importância. O que já está podre não tem remédio. 
Via Gervásio Castro Neto (facebook)