segunda-feira, 20 de março de 2017

E o golpismo continua a toda...

Neoliberalismo e democracia são incompatíveis 
Pedro Rossi no IHU Online
Defensor da tese de que tanto à direita quanto à esquerda do espectro político haverá uma defesa do papel do Estado na vida social, o economista Pedro Rossi frisa que essa tendência já pode ser vista em “muitos países” diante de “um realinhamento eleitoral que valorizou os extremos do espectro político”, por conta de “um esgotamento do discurso tradicional de que o livre-mercado resolve os problemas”.

Na avaliação de Rossi, os futuros governos à direita ou à esquerda irão compartilhar “aspectos em comum”, como “o resgate do nacionalismo, da atuação direta do Estado no combate ao desemprego e na retomada do crescimento e o questionamento do papel do setor financeiro. As divergências, porém, são importantes: do lado direito há o resgate do Estado garantidor dos bons costumes e de uma agenda cultural conservadora; do lado esquerdo, há o Estado garantidor dos direitos sociais e redutor das desigualdades”.

Na entrevista a seguir, concedida por e-mail à IHU On-Line, Rossi comenta a política econômica nacional, a qual, segundo ele, “atua em dois planos”. “No primeiro desmonta-se a capacidade do Estado de promover as políticas sociais e fragiliza-se a posição dos trabalhadores. (...) No segundo plano, desmonta-se a capacidade do Estado de induzir o crescimento e de transformar a estrutura produtiva por meio do novo regime fiscal que limita o gasto com investimento público, a privatização da gestão dos bancos públicos e da Petrobras”.

Pedro Rossi é graduado em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, mestre e doutor na mesma área pela Universidade de Campinas – Unicamp, onde leciona atualmente. É diretor do Centro de Estudos de Conjuntura e Política Econômica - CECON da Unicamp, diretor da Sociedade Brasileira de Economia Política - SEP e coordenador do conselho editorial do Brasil Debate.

IHU On-Line - Por quais razões as ideias neoliberais são desastrosas, segundo sua avaliação? Quando o senhor se refere a “ideias neoliberais”, acerca do que está tratando especificamente?Pedro Rossi - O neoliberalismo está em crise nas suas várias dimensões. Nos países centrais há um esgotamento do neoliberalismo como “racionalidade social” que difunde o individualismo e a competição desenfreada entre os indivíduos, o que resulta em uma frustração generalizada no plano individual. Mas há também um fracasso das políticas econômicas neoliberais.

No Brasil, a retomada das políticas econômicas neoliberais a partir de 2015 foi um fracasso rotundo. Quanto mais o tempo passa, mais isso fica evidente. Quando Joaquim Levy assumiu, dizia-se que a volta do crescimento estava ali na esquina, que o ajuste fiscal traria de volta a confiança, mas o conjunto de políticas só fez aprofundar a crise, que se transformou na maior contração da renda da história brasileira.

Os economistas neoliberais passaram a atribuir a crise às políticas “intervencionistas” do primeiro governo Dilma. O argumento das defasagens foi usado para explicar a contração de -3,8% em 2015 e agora volta a ser usado para explicar a queda de -3,6% no PIB em 2016. Mas já são dois anos de políticas neoliberais! É o chamado oportunismo das defasagens que atribui a culpa do que acontece hoje às políticas do passado, e conforme o tempo passa, as defasagens aumentam.

Intervenção estatal

Há uma crença ideológica de que a intervenção do Estado só faz atrapalhar o crescimento, logo a redução do gasto público e as reformas neoliberais não podem ter causado a crise, por princípio. Aí os dados têm que se adaptar à crença. Mas a ideia de que tudo foi culpa do primeiro governo Dilma tem prazo de validade; fazia algum sentido em 2015, agora está se desmoralizando.

O discurso neoliberal será enterrado nas urnas em 2018, se houver eleição. A população está se cansando da ideia de que é preciso reduzir o Estado para gerar crescimento. Isso está ficando claro. Há até um certo desespero da parte de alguns economistas ortodoxos que passam a brigar com a realidade e ofender quem pensa diferente, chamando-os de desonesto, o que revela uma tendência ao autoritarismo. A mosquinha do ódio está à solta no debate econômico.
Via Pataxó