sábado, 7 de outubro de 2023

Sinistra Radiografia da Insegurança no Rio de Janeiro

Sinistra Radiografia da Insegurança no Rio de Janeiro | Considerações Acerca Das Bárbaras Execuções dos Três Médicos...          
por Thead By Advocacia Criminal(¹)
Sim, é longo texto, destinado aos que tiverem paciência e curiosidade sobre o tema. Pela principal linha de investigação da Polícia Civil do Rio de Janeiro, a execução dos três médicos no último dia 05 de outubro de 2023, bem como a tentativa de execução do quarto médico, teria sido perpetrada por integrantes da facção Comando Vermelho (CV).

É oportuno lembrar que o Comando Vermelho, no decorrer do presente ano, se aliou à mais antiga milícia em atividade no Rio de Janeiro, então denominada, atualmente, como “Bonde do Zinho”, sendo o “chefe” Luís Antônio da Silva Braga, o “Zinho”. Ao citar tal milícia, é fundamental esclarecer que se trata da antiga “Liga da Justiça”, então constituída, pelo que se sabe, nos idos anos de 1995. 

Como assim? Simples. A “Liga da Justiça”, com origem na zona oeste carioca e, segundo a Polícia Civil do RJ, fora fundada por Jerônimo Guimarães Filho, o “Jerominho”, ex-vereador do Rio assassinado em 04.08.2022. “Jerominho” foi preso em 2007, quando a chefia da “Liga da Justiça” era compartilhada com outros três criminosos (Ricardo Teixeira Cruz, o “Batman”, preso em 2009; Toni Ângelo de Souza Aguiar, preso em 2013; e, Marcos José de Lima, o “Gão”, preso em 2014). 

Interessante destacar que todos eram policiais militares (PMERJ). Com a prisão dos líderes, a “Liga da Justiça” passa a se chamar “A Firma”, bem como tem nova liderança, agora confiada a Carlos Alexandre Braga, o “Carlinhos Três Pontes”, um ex-traficante que ganhou prestígio entre os integrantes do grupo paramilitar. 

Outro ponto merecedor de destaque: antes tal milícia detinha estrutura policial, ou seja, a cadeia de comando era exclusivamente dominada por policiais militares e, agora, não mais. Um ex-traficante fora alçado à posição de comando. E, sob a nova liderança, a antiga “Liga da Justiça”, agora “A Firma”, buscava expandir-se, tanto territorialmente quanto nos “negócios” explorados. 

Antes, o foco estava na exploração de transporte clandestino e nas intermediações de ocupações urbanas. Sob a denominação de “A Firma”, além de abandonar a concentração, também buscou intensificar a parceria com o tráfico de drogas. Mas, como no mundo do crime a vida não costuma ser longeva, “Carlinhos Três Pontes” foi morto em 2017 durante uma ação policial contra a milícia. 

Em decorrência de tal morte, porém em uma inegável “sucessão familiar”, o comando da milícia é transferido para um dos irmãos de “Carlinhos Três Pontes”, Wellington da Silva Braga, o “Ecko”. Com a assunção do novo “chefe”, o grupo paramilitar foi rebatizado, se tornando o “Bonde do Ecko”. Sob o comando de “Carlinhos Três Pontes” a milícia já tinha atingido nível de maior violência em sua atuação e se expandia, mas fora sob a “batuta” de “Ecko” que fora constatada a amplificação de sua expansão territorial. 

Mas, a sobrevivência no mundo do crime, uma vez mais, não fora longa. “Ecko”, da mesma forma que o irmão, morreu durante uma operação policial, em 2021. E, repetindo a mesma “fórmula de sucessão”, agora fora a vez de outro irmão assumir o comando da milícia. O comando continuava, assim, na família “Braga”. 

Agora o comando é de Luís Antônio da Silva Braga, o “Zinho”. “Zinho”, que se encontra foragido, mesmo enfrentando um racha, ocasionado pela disputa de territórios, principalmente com Danilo Dias Lima, o “Tandera”, então ex-braço direito de seu irmão “Ecko”, segue no comando do atual “Bonde do Zinho”. 

Antes de adentrar à, segundo a Polícia Civil/RJ e observações próprias, aliança entre o “Bonde do Zinho” e o Comando Vermelho (CV), mister destacar que a rivalidade instituída entre o primeiro e “Tandera” fez com que antiga “regra” fosse quebrada. 

Antes, até o ano de 2021, não era prática matar parentes de milicianos. De 2021 aos dias atuais, tal expediente tem sido observado, com o desaparecimento forçado e mortes também de parentes de milicianos, o que pode-se denominar como uma “prática de terrorismo”. Bem, e onde entra o Comando Vermelho? Com a morte de “Ecko”, tal como exposto acima, o racha na milícia se agravou. 

De um lado o irmão que assumiu o comando, “Zinho”, e de outro, o ex-aliado, “Tandera”. Mas, não somente “Tandera” havia se desvencilhado de “Zinho”, eis que Rodrigo Santos, o “Latrell”, antigo homem de confiança de “Zinho” (pelo que se sabe, “Latrell” verdadeiramente gerenciava a milícia, honrando a palavra dada a outro irmão, “Ecko”), tão logo fora preso, em março de 2022, em São Paulo, também rompeu "laços" com o "Bonde do Zinho". 

Após a ruptura de “Latrell”, fora a vez de Alan Ribeiro Soares, o “Nanan”, romper com “Zinho”. “Nanan”, antigo integrante da cúpula do “Bonde do Zinho”, não somente rompeu com “Zinho” como também se tornou seu principal inimigo (rival) nas ruas, intensificando, ainda mais, a disputa por territórios. 

Enfraquecido e encurralado, “Zinho” opta por firmar uma aliança com o Comando Vermelho (CV), dando permissão para que a facção pratique o comércio de entorpecentes nas áreas em que antes eram de domínio exclusivo da milícia. Fato que “Zinho” não tinha o mesmo controle sobre seus milicianos que seu irmão, “Ecko”, tinha.

A aliança, em especial pela instituição do “pacto de não-agressão”, entre o CV e o “Bonde do Zinho” tem o condão de concretizar o termo “narcomilícia”, a união entre os grupos paramilitares e as facções criminosas que se dedicam, principalmente, ao tráfico de drogas. Outro ponto interessante a se destacar é que antes a conexão era entre os paramilitares e o Terceiro Comando Puro (TCP), uma facção rival do Comando Vermelho (CV), pois este, tradicionalmente, optava por não se aproximar de grupos paramilitares. 

Ao que se sabe, a tal aliança fora celebrada no Complexo da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro, e um dos fortes redutos do Comando Vermelho, sendo entabulada diretamente por Wilton Rabello Quintanilha, conhecido como “Abelha” (apontado como a principal liderança do CV nas comunidades cariocas) e “Zinho”. 

Por óbvio, a aliança entre a milícia e o CV não é o mesmo que afirmar que teria ocorrido uma “fusão” entre os dois grupos antes opostos. Creio que o mais correto seria afirmar que houvera um “pacto de negócios”, então limitado ao fornecimento de armas para “fortalecer” o confronto entre rivais (“Zinho”, no momento, tem vários!), bem como a possibilidade de exploração do tráfico de drogas nas áreas dantes exclusivas da milícia e, claro, a coexistência “pacífica” no mesmo território. 

Em outras palavras, o Comando Vermelho ganha novas áreas (sob o olhar nada atento do Governo do Estado do RJ), expandindo seus domínios no Rio de Janeiro. Atingindo a zona oeste do Rio de Janeiro, o CV, pelo que as investigações demonstram, já está presente no Recreio dos Bandeirantes e na Gardênia Azul (territórios dantes controlados pela milícia). 

Com os embates acirrados, notadamente com os rivais de “Zinho”, as mortes violentas tiveram, segundo a Polícia Civil/RJ, considerável aumento nas “novas áreas” da aliança, recentemente com mais de 20 mortes ligadas às disputas de território. 

E, qual a relação com a execução dos médicos? De acordo com as primeiras informações das Forças Policiais encarregadas da investigação, o verdadeiro alvo da EXECUÇÃO seria Taillon de Alcântara Pereira Barbosa (foto principal), miliciano que PODE ter sido confundido com 
um dos médicos executados na orla da Barra da Tijuca. Como assim? Tal como se pode perceber pela foto ao lado, Tailon possui “traços” que, eventualmente, poderiam ter sido confundidos com os do Dr. Perseu Ribeiro Almeida. E, quem desejaria matar Tailon?

Bem, Taillon é filho de Dalmir Pereira Barbosa, apontado como um dos principais chefes de uma milícia que atua em Rio das Pedras, na Muzema, Jacarepaguá e outros locais da Zona Oeste do Rio (processo nº 0201954-94.2020.8.19.0001, TJ/RJ, da 1ª Vara Criminal Especializada).

E, a qual milícia Tailon pertencia e qual razão para lhe matar? Ao que tudo indica, Tailon pertence à famosa milícia “Escritório do Crime”, aquela que já teve como chefe o ex-capitão do BOPE Adriano Magalhães da Nóbrega (aquele mesmo que se “diz” ter alguma relação com a família do Inelegível, e morto em fevereiro de 2020, em operação policial na Bahia). E, pelos contornos atuais das alianças criminosas, o CV já está presente na Gardênia Azul, em Jacarepaguá e que, então, era área de atuação do miliciano Tailon (alvo da “Operação Intocáveis” do MP/RJ). 

Até mesmo pela divulgação dos nomes dos supostos autores da bárbara EXECUÇÃO, então pessoas ligadas ao CV (Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, conhecido como “BMW”, e Philip Motta Pereira, vulgo “Lesk” ou “CR7”), bem como pelo fato de o carro (Fiat Pulse branco, vídeo no primeiro "post") foi conduzido após o crime até a comunidade da Cidade de Deus, então de domínio do Comando Vermelho. 

Mesmo com tais informações, bem como com o atual estágio das investigações conduzindo para tal caminho, por enquanto, todas e quaisquer hipóteses devem ser consideradas e profundamente investigadas, até mesmo por estarmos diante de gravíssimo delito perpetrado por um braço ou outro do crime organizado!

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