Judiciário
prende Cunha enquanto secretamente implementa a reforma trabalhista
Daniel Andrade
Buscando mostrar que atinge a todos a Lava Jato e o
juiz Sérgio Moro prenderam hoje o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Longe
de significar que a lei funciona para todos, nessa medida pode-se ver uma
tentativa de legitimação desse poder enquanto sua mais alta instância, o STF,
está avançando secretamente e por fora de toda jurisprudência das últimas
décadas em diversos ataques aos direitos trabalhistas.
Ou seja, o judiciário está dando um passo além no que
ele tem rasgado da Constituição em meio aos jogos políticos do golpe
institucional, agora esse golpe é diretamente contra os direitos trabalhistas.
A Lava Jato entra como um chamariz e uma justificativa popular enquanto os
verdadeiros interesses estão ocultos em outro lugar.
A operacao Lava Jato, como temos argumentado, significa
um salto nas medidas arbitrárias e repressivas do judiciário (escutas ilegais,
delações, prisões preventivas) e que avançaram contra o notoriamente corrupto
Eduardo Cunha somente depois dele ter facilitado o avanço do impeachment.
Antes
de Moro foi o STF que sentou-se em cima do caso de Cunha por meses, deixando
ele operar mil e uma manobras enquanto era funcional ao golpe institucional.
Por trás dessa prisão de hoje, pela qual se aguardou muitíssimo tempo, está uma
possibilidade de novo avanço da Lava Jato contra seu alvo preferencial e quase
exclusivo, o PT e Lula, e também uma legitimação desse poder que recebe
salários milionários, foi eleito por ninguém, e tem "exemplares",
como já aconteceu no Rio de Janeiro que dão ordens de prisão a quem questionar
sua divindade.
A Lava Jato escolhe quem ataca e quem salva. Começando
pelas empresas imperialistas citadas na operação (Mitsui, Samsung, entre
outras) nunca investigadas, isso para não falar dos tucanos.
O STF interpreta,
entorta e rasga a Constituição Federal conforme seu jogo político e
crescentemente tem se metido em uma seara que nunca tinha sido de sua alçada:
nossos direitos trabalhistas.
Poucos dias atrás Dias Toffoli julgou ação onde buscou
sentar precedente que é lícitoproibir uma greve - em flagrante contradição
com a Constituição - e ainda essa semana Gilmar Mendes, por liminar fez mais de
260 acordos coletivos desaparecerem e no lugar vigorar a CLT pois não havia
acordo firmado.
Para ele a posição do TST que neste caso deveria continuar
valendo o acordo anterior era injusta. Injusta para os empresários, segundo ele
declarou em entrevista ao Jornal Nacional, e agora vários direitos dessas
categorias foram arrancados por uma canetada do nobre senhor afim aos tucanos,
eleito por ninguém.
Ainda é necessário ver o que o pleno do STF decidirá sobre
essa liminar de Gilmar Mendes, se ela sentará um precedente nacional ou se será
aplicada somente a esses casos, entre outras possibilidades. Mas algo é certo,
o judiciário, às escondidas faz o que Temer e o Congresso estão temerosos de
fazer às claras, a reforma trabalhista, o ataque a nossos direitos.
Essa continuidade do golpe, agora claramente contra os
direitos trabalhistas, mostra o absurdo de posições de correntes da esquerda que
aplaudem as ações do judiciário, um poder crescentemente arbitrário e
repressivo, e que agora quer nos arrancar direitos por liminar.
Esse importante
ataque, goza até o momento do profundo silêncio das centrais sindicais, como a
CUT e CTB, que, apesar dos discursos estão dando uma trégua a Temer e aos
golpistas de toga.
Sua trégua é funcional a se mostrarem hábeis administradores
do capital em 2018 e não "lutadores" contra os ajustes e ataques.
Essa renovada cara de limpeza do judiciário ao atingir
o mais podre dos políticos nacionais não pode nos confundir.
O que está em jogo
não é Cunha, é atacar alguns políticos e talvez um ou outro partido para
colocar no lugar um novo esquema de corrupção, agora mais funcional ao
imperialismo nunca tocado pela Lava Jato, e em meio a tudo isso atacar nossos
direitos.
Via Esquerda Diário