Por
ordem do Estado, mulheres negras
são sujeitadas à repressão policial
cotidianamente.
Por
Giovanna Milhã
Faltam
19 dias para o 8 de março: Grandes empresas propagam, através da mídia, a ideia
de que há por dentro do capitalismo a possibilidade de termos uma vida sem
fronteiras. A realidade nos prova o contrário.
Em um sistema reificante, tudo é
transformado em mercadoria e as mulheres negras são a carne mais barata. Artigo
dedicado às mulheres refugiadas.
“Casos
isolados” e o recorte de classe, gênero e raça
Não
é preciso voltar muito no tempo para, ao comparar algumas situações,
identificar alguns padrões e, assim, desmistificar os ditos “casos isolados”.
Vejamos:
Luana
Barbosa dos Reis foi assassinada por espancamento. Sofreu uma isquemia cerebral
aguda causada por traumatismo crânio-encefálico, conforme aponta a declaração
de óbito. Uma testemunha afirma que Luana foi brutalmente agredida por pelo
menos seis policiais na rua da casa onde morava em Ribeirão Preto. Mulher
negra, lésbica e periférica.
Claudia
Silva Ferreira teve seu corpo arrastado por 350 metros por um carro da polícia
militar do Rio de Janeiro. Foi baleada durante uma troca de tiros entre
policiais do 9º BPM e traficantes do Morro da Congonha, em Madureira, enquanto
ia comprar pão. Mulher negra e periférica.
Maria
Cícera Santos Portela era moradora da São Remo e trabalhadora terceirizada da
Faculdade de Educação da USP. Foi assassinada pela polícia militar em sua
própria casa. Mulher negra e periférica.
Aiyana
Stanley-Jones foi assassinada com uma bala na cabeça enquanto dormia no sofá de
sua própria casa em Detroit. Joseph Weekley, o policial, entrou na residência
para prender o tio da menina, mas a assassinou em meio a operação. Menina negra
de apenas sete anos.
Verônica
Bolina foi presa numa confusão em seu prédio, acusada de agredir uma vizinha.
Já em cela, após sofrer inúmeros abusos, mordeu a orelha do policial e foi
brutalmente espancada e exposta publicamente na prisão e pela mídia. Há
indícios de tortura. Travesti e negra.
Alguns
poucos exemplos evidenciam muito. Todas as mulheres supracitadas tinham a mesma
cor e foram vítimas de violência policial. A repressão é institucionalizada e,
portanto, torna-se parte horrenda do cotidiano do povo negro. O genocídio é um
fato. Projeto político racista naturalizado através de medidas como a guerra às
drogas. O higienismo atinge as mulheres negras diretamente. Por vezes por serem
mortas, outras por enterrarem seus filhos. Mas por quê?
A
sociedade vigente é capitalista. Logo, um sistema de opressão e exploração. As
duas classes que convivem - nada harmonicamente - existem por meio da dominação
de uma sobre a outra. Trocando em miúdos, o proletariado tudo produz e
burguesia detém os meios de produção e no bojo das relações político-econômicas
existe a ideologia dominante, como o racismo e o machismo.
Estas justificam e
aprofundam a relação de exploração. Afinal, é preciso convencer os oprimidos de
que eles merecem passar pelas mazelas a que são submetidos. As opressões são,
portanto, estruturais.
No
mais, é importante pensar à serviço de quem está a instituição polícia.
Fenômenos como o encarceramento massivo da juventude negra, por exemplo, são
bastante lucrativos. E podem se tornar ainda mais com o projeto de privatização
dos presídios. Ou seja, criminalizar os pobres é uma medida em nada espontânea,
mas muito bem articulada e veiculada com o desemprego e a precarização da vida
- acesso restrito à educação, saúde, lazer e moradia.
No
entanto, não podemos achar que apenas a polícia militar é criminosa. Ao
contrário, todas as polícias cumprem o papel repressor do estado burguês. Vide
as UPPs no Rio de Janeiro ou as tropas “pacificadoras” enviadas ao Haiti,
responsáveis pelo estupro e assassinato de muitas mulheres negras haitianas. É
importante lembrar que lá os negros fizeram revolução. Não à toa há tanta
perseguição. Muitas mulheres negras foram ícones da luta antirracista,
abolicionista e anticapitalista.
O
peso pena da impunidade e a necessidade de uma resposta à altura.
O
aparato repressor do Estado é historicamente legitimado. Não houve punição ao
massacre do Carandiru ou ao da Candelária, por exemplo. Os poucos casos que, a
contragosto da instituição, tornam-se públicos são julgados pelo tribunal
militar e, portanto, são arquivados. É muito comum constar no laudo que as
mulheres negras morreram por um acidente. Faz-se necessário que os casos não
sejam julgados pelas mãos dos próprios culpados. Mas por júri popular.
Outra
necessidade é que a esquerda e todos os setores de movimento de mulheres e
negros seja consequente no combate ao racismo e machismo, não defendendo em
hipótese alguma nenhuma das polícias e lutando para o seu fim, já que caráter
da instituição é a contenção das possíveis revoltas e a manutenção da sociedade
tal como é.
Via Esquerda Diário